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Mórmons Contra Ciência?

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A elegante estrutura helicoidal do DNA: descoberta em 1953, 6 anos após Russell Nelson se formar em Medicina, quase 100 anos depois que Charles Darwin revolucionou a Ciência moderna com a Teoria que ela ajudou a comprovar.

Mensagem de Páscoa de Apóstolo Russell Nelson inaugura nova era de conflito entre Mormonismo e Ciência?

Durante a última Conferência Geral há duas semanas atrás, para minha enorme surpresa, o Apóstolo Russell Nelson ridicularizou duas das teorias científicas mais aceitas, comprovadas, demonstradas, e fundamentais para uma gama enorme de todo processo científico da atualidade.

Sem exageros, ele teria se envergonhado menos se ele tivesse questionado uma das teorias de Gravidade, que é muito menos compreendida. Eu gostaria de, brevemente, discutir como ele esta errado, por que eu suspeito que ele tenha adotado essa postura, qual o contexto histórico na relação entre Mormonismo e Ciência, e quais as implicações para o futuro.

Assim que a tradução oficial estiver disponível, postarei um link para o texto do discurso aqui, mas por enquanto, o vídeo dublado pode ser encontrado aqui (vídeo, audio). Durante o seu discurso, Nelson estava descrevendo o que ele chamou de “atributos milagrosos” do corpo humano dentro de uma discussão de como o corpo humano é uma dádiva divina. Ele comenta sobre:

1) Os olhos e o cristalino; enervação muscular conjugada para a formação de visão tri-dimensional; conexão com o cérebro para “gravação” das imagens; 2) O coração, sua função de bomba, e seu sistema de válvulas; 3) O reflexo neurofisiológico de Dor como mecanismo de proteção; 4) O sistema imunológico e a produção de anticorpos; 5) A pele como fator protetor de barreira; 6) A “renovação” celular; manutenção de homeostasia de “ingredientes” fundamentais; 7) O processo de cicatrização; 8) Os processos de reprodução.

Após enumerar tais processos fisiológicos “milagrosos” que demonstra “Deus se movimentando Seu poder e majestade”, Nelson afirma:

“Por que o corpo é governado por leis divinas, toda cura vem por obediência à lei na qual tal benção esta predicada.”

Este conselho médico (afinal de contas, Russel Nelson é um cirurgião cardíaco por formação) foi rapidamente seguido de uma afirmação inequívoca, em tom jocoso de quem corrige uma criança na primária:

“Não obstante, muitas pessoas creem erroneamente que estes maravilhosos atributos físicos surgiram por acaso, ou resultaram de um grande estrondo [big bang] em algum lugar. <sorriso sardônico> Pergunte-se a si mesmo, poderia uma explosão numa impressora produzir um dicionário? A probabilidade é muito remota. Mesmo que não fosse, ele jamais poderia cicatrizar suas próprias páginas rasgadas, ou reproduzir suas próprias novas edições.”

O resto do discurso entra num argumento mais teológico, mas esse não é o escopo da presente discussão. Aqui, discutiremos, a validade dos argumentos do ponto de vista científico e lógico.

Teoria do Big Bang

A Teoria do Big Bang é a pedra fundamental de toda a Ciência moderna, explicando e influenciando todas as áreas científicas, e comprovada com precisão não vista em nenhuma outra área de pesquisa.

Primeiramente, a Teoria do Big Bang é a pedra fundamental de toda Cosmologia moderna e é amparada por milhares de estudos nas áreas de Astronomia, Astrofísica, Física Teorética, e Física Quântica. Alguns detalhes específicos ainda são contestados, particularmente os pormenores dos primeiros 10−43 segundos [1], após o que a evolução do Universo segue modelos matemáticos bem compreendidos, testados, e verificados por dezenas de linhas de evidências.

Toda nossa compreensão de aspectos físicos, e em especial de Mecânica Quântica, dependem de, e confirmam, nossas observações que moldam o modelo do Big Bang. Todos os avanços tecnológicos dos últimos 50 anos, incluindo tecnologia de computação que permite o uso de micro-computadores, celulares, aparelhos de gps, etc., além da capacidade de pousar homens na lua e manter satélites artificiais na órbita de Saturno são produtos dos modelos teóricos e matemáticos que confirmam o Big Bang.

Esse modelo científico é tão básico, tão compreensível, tão factual e comprovado que eu aposto que você não consegue achar um professor da BYU em qualquer uma dessas áreas que não ache risível (e ignorante) questionar a sua validade.

Houve uma época em que acreditava-se que a Terra era plana e o céu uma doma estrelada, ou mesmo que o Sol girava em torno da Terra (inclusive, essas crenças são fartamente refletidas nos textos da Bíblia escritos há +2000 anos). Hoje em dia, poucas pessoas se deixam levar por tais crenças cientificamente absurdas. Discorrer contra o Big Bang é do mesmo nível de absurdidade.

Teoria da Evolução Orgânica

Mutações genéticas levaram corações com apenas 1 câmara -- simples bomba muscular -- a apresentar 2 câmaras, num processo evolutivo de durou centenas de milhares de anos e gerações. Ironicamente, a especialidade do Dr. Russell Nelson era o coração.

Segundamente, a Teoria de Evolução Orgânica é a pedra fundamental de toda Biologia moderna e é amparada por milhares de estudos nas áreas de Microbiologia, Bioquímica, Genética, Fisiologia, Anatomia Comparativa, Antropologia, e não menos importante, Medicina. Absolutamente todos os avanços científicos nessas áreas foram moldados, influenciados, e direcionados pela Teoria de Evolução, e todas elas a confirmaram e reforçaram repetidas vezes.

Esse modelo científico é tão básico, tão compreensível, tão factual e comprovado que eu aposto que você não consegue achar um professor da BYU em qualquer uma dessas áreas que não ache risível (e ignorante) questionar a sua validade.

Houve uma época em que acreditava-se que o centro do pensamento e da razão vinham dos rins, e que o centro das emoções e sentimentos vinham do coração, ou que doenças neurológicas com epilepsia eram causadas por demônios (inclusive, essas crenças são fartamente refletidas nos textos da Bíblia escritos há +2000 anos). Hoje em dia, poucas pessoas se deixam levar por tais crenças cientificamente absurdas. Discorrer contra a Evolução é do mesmo nível de absurdidade.

Todos os 8 pontos enumerados acima são simplesmente produtos de Evolução Orgânica por centenas de milhares de anos, e hoje nós temos modelos para o desenvolvimento e evolução de cada um desses sistemas, tanto do ponto de vista anatomico-funcional, como do ponto de vista genético!

O Dr. Russell Nelson, médico por formação acadêmica, deveria saber que Evolução ocorre através de mutações genéticas randomicas (ao acaso) que se acumulam e se propagam através de pressões seletivas, naturais ou artificiais, não randomicas (não ao acaso). Dessa maneira que, por exemplo, organismos menos complexos evoluíram sistemas circulatórios simples e abertos, que com o passar de muito tempo, acumulando mutações genéticas, e sob pressões ambientais evolutivas, desenvolveram sistemas circulatórios cada vez mais complexos e fechados, posteriormente com mecanismos de bombas musculares externas,

A mutação de um gene que altera a expressão de uma proteína específica significou a Evolução do Coração de uma bomba muscular com 3 câmaras, para 3 e meia (híbrido), e eventualmente para as 4 que nós, mamíferos, temos. O grande milagre aqui foi quando cientistas conseguiram montar esse quebra-cabeça multi-milenar.

depois com bombas musculares especializadas com duas câmaras distintas, depois com bombas musculares com três câmaras distintas, até chegar no coração mamífero de quatro câmaras distintas. O sistema de válvulas igualmente passou por fases de desenvolvimento mais rudimentares e menos eficazes até o modelo tão elogiado pelo cirurgião Russell Nelson, que ainda assim não é perfeito e tem seus defeitos e suas ineficacias.

A Evolução dos Olhos ocorreu de processos bem conhecidos e documentados, inclusive em níveis moleculares e genéticos, com impressionante avanços nos últimos 20 anos.

O mesmo se pode delinear para todos os sistemas mencionados por Nelson. O olho e o cristalino são particularmente interessantes, porque o olho é um argumento velho e surrado de Criacionistas polêmicos que há quase 100 anos tentam bloquear o ensino de Ciências e Biologia em escolas e faculdades dos Estados Unidos. Nesses 100 anos, o conhecimento sobre a evolução de olhos primitivos, formados por simples células fotoreceptoras, por toda formação de câmara única e bi-câmara, até passando pelo processo de formação de uma lente refratária (i.e., nosso cristalino, mencionado por nome no discurso do Nelson) cresceu exponencialmente. A diferença, talvez, se compararia com a diferença nos nossos conhecimentos de astronomia entre hoje e na época de Newton!

Dr. Nelson, como médico, deveria saber e conhecer bem os processos aleatórios que levam a mutações genéticas que ocorrem todos os dias em todas pessoas (em todos seres vivos, mas médico só estuda seres humanos). O processo é inerentemente aleatório e randomico (ao acaso), e ocorre o tempo todo, e médicos veem isso na prática médica o tempo todo. Fato inegável! Mutações que ocorrem em células germinativas (que participam do processo de reprodução) e que passam para novas gerações se acumulam com o tempo, e aqui nossa referência não é 50 ou 100 ou 200 anos, mas centenas de milhares de anos, muitas vezes em organismos com taxas de reprodução de minutos, horas, ou dias, ao invés dos 20 anos do ser humano.

Uma das primeiras coisas que se aprende na faculdade de Medicina é Anatomia Comparada. Múltiplos Estágios de Olhos em Moluscos ilustram como o processo evolutivo dos olhos ocorreu através das centenas de milhares de anos.

Dr. Nelson, como médico, deveria saber que o processo de Seleção Natural não é aleatório ou randomico (ao acaso). Médicos vivenciam isso diariamente. Bactérias expostas a um ambiente hostil pela presença de antimicrobianos “desenvolvem” resistência exatamente pelo mesmo processo que a Evolução mudou a expressão da vida na face da Terra: mutações genéticas aleatórias surgem toda vez que as bactérias se dividem (procriam), e embora na maioria das vezes isso não lhes ajude para nada, eventualmente uma das mutações pode alterar uma das características, e uma das novas características pode ajudar a não ser destruída pelo antibiótico. A bactéria diferente que não foi destruída pela antibiótico se reproduz mais que as demais (que são destruídas pelo antibiótico), e logo toda população bacteriana compartilha da mesma alteração, havendo “evoluído.” Mutações são aleatórias, seleção é determinada (não aleatória) pelo ambiente.

O que o Nelson talvez nunca tenha aprendido, como médico, é que os processos científicos que regem os estudos de Biologia e Medicina são os mesmos para Física e Astronomia. Independentemente dos detalhes específicos, Nelson tem treinamento suficiente para reconhecer a diferença entre uma Teoria Científica (modelo testado e confirmado múltiplas vezes, com previsões concretas comprovadas, e enorme poder explicativo e de síntese) e meras conjecturas filosóficas ou hipóteses.

A Polêmica Smith-Roberts-Talmage

Durante décadas, a Igreja sofreu com esse embate entre religião e ciência. [2]

No final da década de 1920, Presidente dos Setenta B. H. Roberts terminava o manuscrito para um livro que serviria de Manual de Sacerdócio, quando o comitê de Apóstolos responsáveis pela aprovação do livro tiveram dúvidas sobre a afirmação da existência de “pre-Adamitas” (i.e., pessoas que viveram e morreram *antes* de Adão e Eva). A questão foi levada para o Quorum dos 12 Apóstolos, que como um grupo, decidiu recomendar para a Primeira Presidência que evitassem abordar o assunto.

Presidente dos Setenta Brigham Henry Roberts

Mas, um jovem Apóstolo chamado Joseph Fielding Smith não ficou satisfeito com essa postura, e em Abril de 1930, num discurso público, atacou B. H. Roberts (sem citar seu nome) diretamente, criticando proponentes dessa noção (e.g., que havia morte antes da “Queda de Adão”) como apóstatas!

Após a publicação do discurso em Outubro, Roberts, furioso, exigiu da Primeira Presidência o direito de resposta. Assim, o Presidente da Igreja Heber Grant decidiu que ambos teriam a oportunidade de apresentar seus argumentos em dias separados, diante de uma reunião dos Doze Apóstolos. Ambos deram apresentações longas duas semanas apartes, e o Conselho decidiu devolver a questão para a Primeira Presidência.

Insatisfeito, Roberts seguiu pressionando Grant por escrito pelo direito de defender sua posição e, mais importante, a publicação de seu livro. Debates prosseguiram entre os 15 homens do alto escalão, enquanto Roberts ficava marginalizado, forçado a comunicar-se com alguns deles apenas por correspondência. Mas, agora entrava na briga outra pessoa…

Quieto durante todas as discussões entre Roberts e Smith, o Apóstolo James Talmage ficou incomodado com algumas dos argumentos apologistas de Smith. Geólogo por profissão, Talmage tinha perfeita compreensão que a idade geológica da Terra era muito, muito maior que os meros 6.000 anos que ele defendeu. Decidiu, então, escrever para o seu filho mais velho, também geólogo profissional, para que avaliasse os argumentos e, principalmente, o autor “cientista” que Smith citava para defender sua visão literalista.

Os dois Talmages, pai e filho, montaram contra-argumentos destruindo todo o embasamento pseudo-científico e pseudo-racional de Smith. Mas este não se deixaria levar, e ao seu favor contava com comando das escrituras e de sua interpretação ultra-literal. Semanas de brigas e discussões seguiram, com sentimentos feridos e palavras duras entre eles, principalmente entre os Apóstolos.

Infelizmente para Roberts e Talmage, após alguns meses de silêncio, a Primeira Presidência anuncia que decidira arquivar o assunto, tentando evitar que as contendas se escalassem e o clima ficasse ainda mais pesado, com um memorando que dizia:

“Os sermões do Irmão Joseph e as críticas do Irmão Roberts são do tipo que devem ser evitados a todo custo. Eu não acho que nenhum benefício virá de se especular sobre mistérios, e é o que eu sinto no meu coração que é o que esses irmãos estão fazendo.” [2]

A ordem era não discutir esses assuntos em público:

“Sobre as doutrinas fundamentais da Igreja estamos todos de acordo. Nossa missão é pregar a mensagem do Evangelho restaurado aos povos do mundo. Deixemos a geologia, a biologia, a arqueologia, e a antropologia para a pesquisa científica, que nada tem a ver com a salvação das almas da humanidade, enquanto magnificamos nossos chamados no âmbito da Igreja.” [2]

Roberts recebeu a notícia com tremendo pesar. Seu livro, um trabalho de amor de décadas, para ele representava o que de melhor cria haver encontrado na teologia Mórmon e na harmonização com os avanços da Ciência moderna. Talmage, sempre cuidadoso, decidiu tomar uma nova iniciativa por outro meio.

Apóstolo James Edward Talmage

Em Agosto de 1931, 4 meses após o memorando da Primeira Presidência, Talmage dá um discurso entitulado ‘A Terra e o Homem’ onde, fugindo do tema de “pre-Adamitas”, afirma a idade velha da Terra e os vários ciclos de extinção e evolução, antes do estabelecimento da “primeira família”. Imediatamente, furor se reacende no Quórum dos Doze, interrompendo a paz de 4 meses, e discussões acirradas sobre se o artigo deveria ser publicado ou não seguem. Talmage acha que seria apenas justo, visto que o discurso de Smith de um ano antes seguia publicado, oferecendo a impressão equivocada que, entre os dois lados do debate, aquela representava a posição da Igreja.

James Talmage, Reed Smoot, Joseph Merrill, John Widtsoe, Richard Lyman, Anthony Ivins e George Richards defendiam a publicação do discurso, enquanto Rudger Clawson, David McKay, George Smith e
Joseph Smith se opunham. Após muita discussão, estes simplesmente se recusavam a permitir que o voto daqueles levassem à unanimidade. Então a Primeira Presidência foi acionada, e Heber Grant decidiu, desta vez, a favor da publicação do texto.

Após a publicação do discurso de Talmage, a situação se acalmou entre os Apóstolos. Talmage faleceria dois anos depois, sem precisar se embrenhar em debates sobre religião e ciência, e ironicamente, Roberts morreu algumas semanas depois de Talmage. Este, porém, levou até os fins de sua vida um sentimento de frustração e ressentimento por não haver podido ver sua obra prima publicada. [3]

Pouco menos de um ano após as mortes de Talmage e Roberts, Smith volta ao ataque. Ele promove a publicação no jornal da Igreja Deseret News de um artigo escrito por um amigo chamado Howard Bennion, “provando” uma idade de 6.000 anos para a Terra com argumentos “científicos”. Sterling Talmage, o filho geólogo de James Talmage, imediatamente escreve uma resposta e a envia para o Apóstolo John Widtsoe, que a recebe com enorme aprovação. Após confabulações, os dois publicam a resposta no outro jornal da Igreja Church News, e a nova batalha estava deflagrada: réplicas e tréplicas eram publicadas, com o aval de seus respectivos Apóstolos. Um Professor de Religião Sidney Sperry entra no meio, contra-atacando os argumentos de Talmage com insultos pessoais ao falecido Apóstolo, e o clima não poderia ter ficado pior.

Talmage apela para um Conselheiro na Primeira Presidência, Anthony Ivins, que opta por não intervir. Enquanto isso, Smith promove a publicação de outro Criacionista, desta vez não Mórmon, no Deseret News, elevando a ira de muitos cientistas SUD que inundaram a redação com cartas e queixas. A redação decide suspender novas publicações deste Criacionista, que revoltado, escreve para Talmage queixando-se do tratamento e desafiando-o para um debate. Avisando Talmage que ele tinha o respaldo de Joseph Fielding Smith, aquele decide incluir este na roda de correspondências, que falharam em comunicação o que não falharam em animosidade.

Um ano depois, um novo artigo de autor desconhecido no Deseret News defende uma Terra nova (13.000 anos), e Talmage envia nova queixa para a Primera Presidência, pedindo a suspensão de tais publicações, pois violam o discurso de seu pai, que fora um “pronunciamento Apostólico sob designação da Primeira Presidência” e, portanto, oficial para toda a Igreja. Smith recebe tal declaração com tremenda ofensa pessoal, e envia uma contra-resposta para Talmage, que este vê como uma injúria e calúnia contra seu falecido pai.

Injuriado, Talmage escreve à Primeira Presidência exigindo explicações. A resposta não poderia lhe haver chocado mais: esta nova Primeira Presidência se isenta — e isenta o Conselho dos Doze — de qualquer participação na publicação do discurso ‘A Terra e o Homem’ de James E. Talmage, contradizendo o relato que seu pai lhe havia passado (e, sabemos hoje, os diários de Heber J. Grant e Rudger Clawson)!

Resignado e ressentido com essa rejeição de seu trabalho, e da obra de seu pai, Sterling Talmage decide cancelar os artigos que escrevia em conjunto com o Apóstolo John Widtsoe afirmando a Teoria da Evolução. Três anos mais tarde, ainda defendeu Widtsoe publicamente em nova batalha sobre o valor da Ciência contra interpretações literalistas das escrituras, mas resignou-se a manter-se distante das principais brigas no cenário Mórmon. Escreveu um livro para uma audiência mais ampla entitulado ‘Pode a Ciência Promover a Fé?’, mas faleceu em 1956 antes de terminar a preparação para publicação.

Pouco antes de morrer em 1952, John A. Widtsoe expressou sua profunda tristeza e tremenda frustração:

“com essas questões [sobre Ciência] para esta nova geração… já passou do tempo para a Igreja responder essas questões em definitivo ou declarar ignorância, para que as questões mais importantes possam ocupar as mentes dos jovens e dos idosos.” [2]

Em 1973 Duane Jeffrey, Professor de Biologia da BYU, publicou um artigo defendendo a Teoria da Evolução e argumentando que as doutrinas da Igreja são plenamente compatíveis com ela. Este artigo rodou os meios acadêmico Mórmons por décadas, servindo de alento aos membros com educação científica suficiente para sentirem-se incomodados ou traídos com ataques episódicos à Ciência e à razão, como o discurso de 1980 do Apóstolo Bruce McConkie (que incluia Evolução como uma das 7 grandes heresias), e o discurso recente do Apóstolo Russell Nelson.

Ironicamente, um artigo recente no Deseret News defende Ciência e Evolução como princípios intelectuais típicamente Mórmons, citando o famoso Químico Henry Eyring (pai do atual Apóstolo Henry B. Eyring):

“A Evolução Orgânica é o resultado honesto de pessoas competentes tentando explicar as evidências com o melhor de suas habilidades… Do meu limitado estudo pessoal do assunto, eu diria que as evidências apoiando a Teoria são consideráveis, de um ponto de vista científico… Na minha mente, Deus esta por trás de tudo isso, independente se evoluímos ou não.”

Isso há mais de 4 décadas. As evidências aumentaram em ritmo exponencial nos últimos 20 anos, tanto para Evolução como para o Big Bang (entre outras) devido o avanço tecnológico que permitiu novas linhas de pesquisas. Se no passado o trauma emocional e intelectual decorrente dessa “guerra” entre religião ultra-literal e a Ciência não foi pequeno, que dirá hoje, no mundo do século 21, da internet, de pesquisas moleculares e aceleradores de partículas e telescópios em órbita terrestre? Qual não seria o impacto sobre os jovens Mórmons que estão se educando nas áreas das Ciências, ouvindo tamanha besteira vindo de seus líderes máximos?

B. H. Roberts, Sterling Talmage, Henry Eyring, Duane Jefferey tiveram todos, no passado, a coragem para não apenas estudar esses assuntos com afinco e dedicação, mas também para dar voz pública em defesa do avanço, e não retrocesso, intelectual do Mormonismo.

Certamente, para o não iniciado em princípios básicos de Ciência, Evolução, ou Física alguns desses conceitos podem parecer contra-intuitivos. Dispomo-nos para ajudar aqueles que genuinamente gostariam de resolver dúvidas básicas sobre os processos discutidos acima, e muitos dos leitores são bem versados nessas questões científicas também. Portanto, fiquem a vontade para expor dúvidas ou questionamentos. Mas, por favor, lembremo-nos dos sacrifícios destes grandes homens que defenderam as verdades, quaisquer que fossem.

[1] 0,0000000000000000000000000000000000000000001 de segundo, ou a chamada Era de Planck, quando a Força da Gravidade se equivaleria (e teoricamente se unificaria com) as demais forças naturais.
[3] Apesar de haver publicado os importantes trabalhos História da Igreja Documentária (6 volumes) e História da Igreja Compreensiva (6 volumes), Roberts via esta última obra como sua maior contribuição para o avanço intelectual do Mormonismo.

Filed under: Acadêmicos, Cultura Mórmon, Estatísticas, História, Mórmon, Mormon, SUD, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: Acadêmicos, B. H. Roberts, Big Bang, Ciência, Ciências, Conferência Geral, Criacionismo, Evolução, Igreja, James E. Talmage, Joseph Fielding Smith, Livro de Mórmon, Mórmon, Mórmons, Russell Nelson, SUD

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